GUIA TÉCNICO AVANÇADO

Análise de Falhas em Parafusos: Guia de Diagnóstico

Aprenda a identificar tipos de fraturas, diagnosticar causas raiz e prevenir falhas recorrentes em fixadores industriais.

6
Tipos de falhas
15+
Causas mapeadas
5
Passos metodologia
Diagnóstico de Fratura

A análise de falhas em parafusos é uma disciplina crítica na engenharia de manutenção. Compreender por que um fixador falhou é essencial para prevenir recorrências e evitar acidentes. Este guia apresenta metodologia prática para diagnóstico de campo e laboratório.

⚠️ Dado Importante:

Segundo a ASM International, aproximadamente 65% das falhas em fixadores são causadas por especificação incorreta ou instalação inadequada, não por defeitos de fabricação.

6 Tipos de Falhas em Parafusos

1

Fratura por Fadiga

A mais comum (60-70% dos casos). Ocorre por carregamento cíclico abaixo do limite de resistência.

Características Visuais:
  • Superfície lisa na zona de propagação
  • "Marcas de praia" (linhas concêntricas)
  • Zona de ruptura final rugosa
  • Origem em concentrador de tensão
Causas Típicas:
  • Pré-carga insuficiente
  • Vibrações não amortecidas
  • Cargas alternadas não previstas
  • Raio de concordância inadequado
2

Fratura Frágil

Ruptura súbita sem deformação plástica visível. Perigosa por não dar sinais de alerta.

Características Visuais:
  • Superfície granular/cristalina
  • Sem estricção (redução de área)
  • Faces de fratura perpendiculares
  • Padrão tipo "chevron" apontando origem
Causas Típicas:
  • Sobrecarga súbita
  • Material com dureza excessiva
  • Temperatura muito baixa
  • Tratamento térmico incorreto
3

Fratura Dúctil

Caracterizada por deformação plástica significativa antes da ruptura. Indica sobrecarga.

Características Visuais:
  • Estricção visível (pescoço)
  • Superfície fibrosa/"taça-cone"
  • Alongamento da rosca
  • Redução de área na seção de fratura
Causas Típicas:
  • Torque excessivo na instalação
  • Carga além da capacidade
  • Classe de resistência insuficiente
  • Seção transversal subdimensionada
4

Corrosão sob Tensão (SCC)

Combinação de ambiente corrosivo + tensão mecânica. Comum em inox 304 com cloretos.

Características Visuais:
  • Trincas ramificadas (tipo árvore)
  • Pouca ou nenhuma deformação
  • Produtos de corrosão na fratura
  • Fraturas intergranulares ou transgranulares
Causas Típicas:
  • Cloretos + aço inoxidável austenítico
  • Amônia + latão
  • Tensões residuais de soldagem
  • Pré-carga excessiva em ambiente agressivo
5

Fragilização por Hidrogênio

Crítica em parafusos classe 10.9 e 12.9. Fratura súbita horas/dias após instalação.

Características Visuais:
  • Fratura intergranular
  • Superfície brilhante/facetada
  • Nenhuma deformação plástica
  • Falha próxima à cabeça ou 1ª rosca engajada
Causas Típicas:
  • Zincagem eletrolítica sem desidrogenação
  • Decapagem ácida inadequada
  • Exposição a H2S ou ácidos
  • Proteção catódica excessiva
6

Desgaste e Arrancamento de Rosca

Falha na rosca por cisalhamento ou desgaste progressivo. Comum em engajamento insuficiente.

Características Visuais:
  • Filetes de rosca cisalhados
  • Deformação nos flancos
  • Material arrastado/galling
  • Rosca "espanada"
Causas Típicas:
  • Comprimento de engajamento insuficiente
  • Materiais incompatíveis (galling em inox)
  • Falta de lubrificação
  • Rosca danificada na instalação

Guia de Diagnóstico Visual

Use esta tabela para identificação rápida do tipo de falha baseado nas características visuais:

Característica Fadiga Frágil Dúctil SCC Hidrogênio
Deformação plástica Nenhuma Nenhuma Significativa Nenhuma Nenhuma
Superfície da fratura Lisa + Rugosa Granular Fibrosa Ramificada Facetada
Marcas de praia Sim Não Não Não Não
Velocidade da falha Progressiva Súbita Gradual Progressiva Súbita (retardada)
Produtos de corrosão Possível Não Não Sim Não
Local típico 1ª rosca engajada Qualquer seção Seção menor Superfícies expostas Sob cabeça/1ª rosca

Metodologia de Análise de Falhas (5 Passos)

1

Preservação das Evidências

Nunca junte as faces de fratura. Proteja contra manuseio e corrosão adicional.

  • Fotografe in loco antes de remover
  • Embale separadamente cada peça fraturada
  • Identifique com data, local e posição
  • Armazene em dessecante para evitar oxidação
2

Coleta de Informações

Reúna o histórico completo do componente e da aplicação.

  • Especificação original (norma, classe, material)
  • Histórico de manutenção e torque aplicado
  • Condições de operação (cargas, temperatura, ambiente)
  • Tempo em serviço até a falha
3

Exame Visual (Macroscópico)

Inspecione com lupa (10x) e iluminação adequada.

  • Identifique o ponto de origem da fratura
  • Caracterize a superfície (lisa, granular, fibrosa)
  • Procure marcas de praia, chevrons, deformações
  • Verifique produtos de corrosão e desgaste
4

Ensaios Laboratoriais (se necessário)

Para casos complexos ou críticos, utilize análises complementares.

  • Microscopia eletrônica (MEV) para fratografia
  • Análise química (espectrometria)
  • Dureza e metalografia
  • Análise de tensões residuais
5

Determinação da Causa Raiz e Ação Corretiva

Identifique a causa raiz e defina ações para prevenir recorrência.

  • Correlacione evidências com histórico
  • Identifique se foi projeto, fabricação ou operação
  • Documente conclusões e recomendações
  • Implemente ações corretivas e preventivas

15 Causas Raiz Mais Comuns

Causa Raiz Tipo de Falha Ação Corretiva
Torque insuficiente Fadiga, Afrouxamento Usar torquímetro calibrado, revisar procedimento
Torque excessivo Dúctil, Fragilização H2 Definir torque máximo, treinar equipe
Classe resistência inadequada Dúctil, Fadiga Recalcular cargas, especificar classe correta
Material incompatível Corrosão galvânica, SCC Selecionar materiais compatíveis, isolar galvanicamente
Zincagem sem desidrogenação Fragilização H2 Exigir tratamento térmico pós-zincagem (200°C/4h)
Cargas cíclicas não previstas Fadiga Revisar projeto para cargas dinâmicas
Vibrações excessivas Fadiga, Afrouxamento Usar travas mecânicas, porcas autotravantes
Concentrador de tensão Fadiga, Frágil Aumentar raio de concordância, eliminar entalhes
Engajamento de rosca insuficiente Arrancamento Mínimo 1,5D de engajamento em aço
Ambiente corrosivo SCC, Corrosão Especificar material/revestimento adequado

Perguntas Frequentes (FAQ)

Quais são os principais tipos de falhas em parafusos?

Os principais tipos são: 1) Fratura por fadiga (marcas de praia, propagação lenta); 2) Fratura frágil (superfície granular, ruptura súbita); 3) Fratura dúctil (estricção, deformação plástica); 4) Corrosão sob tensão (fraturas ramificadas); 5) Fragilização por hidrogênio (fraturas intergranulares). Cada tipo tem características visuais distintas que permitem diagnóstico.

Como identificar fratura por fadiga em parafusos?

A fratura por fadiga apresenta: superfície lisa na zona de propagação, marcas de praia (linhas concêntricas), zona de ruptura final rugosa e granular, ponto de origem geralmente em concentrador de tensão (raiz da rosca, mudança de seção). A fratura ocorre com cargas abaixo do limite de resistência, após milhares ou milhões de ciclos.

O que causa a quebra de parafusos por fadiga?

Causas de fadiga em parafusos: 1) Pré-carga insuficiente (juntas soltas vibram); 2) Torque excessivo (tensão média alta); 3) Cargas cíclicas não previstas; 4) Concentradores de tensão (raio de concordância inadequado); 5) Material inadequado; 6) Tratamento térmico incorreto. A solução passa por corrigir a causa raiz, não apenas substituir.

Como prevenir falhas em parafusos de alta resistência?

Para prevenir falhas: 1) Especificar classe correta para a aplicação (8.8, 10.9, 12.9); 2) Usar torquímetro calibrado; 3) Aplicar revestimentos anti-corrosão (evitar fragilização por H2); 4) Projetar juntas com pré-carga adequada (70-80% do limite); 5) Evitar concentradores de tensão; 6) Implementar manutenção preditiva com inspeções periódicas.

O que é fragilização por hidrogênio em parafusos?

Fragilização por hidrogênio ocorre quando átomos de hidrogênio se difundem no aço, reduzindo sua ductilidade. Comum em parafusos classe 10.9/12.9 após processos de zincagem eletrolítica ou decapagem ácida. Sintomas: fratura súbita horas/dias após instalação, superfície intergranular. Prevenção: tratamento de desidrogenação (4h a 200°C), usar revestimentos mecânicos (Geomet, Dacromet).

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